Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações

Aquele incômodo no fundo da boca pode ser mais complexo do que parece. Os terceiros molares, popularmente conhecidos como “sisos”, frequentemente causam problemas que levam à necessidade de extração. Mas o que muitos pacientes desconhecem são os riscos envolvidos nesse procedimento.
Ao longo de 17 anos realizando cirurgias odontológicas, percebi que a falta de informação adequada gera ansiedade desnecessária nos pacientes. Este artigo pretende desmistificar a extração de dentes sisos, apresentando os riscos reais e como minimizá-los.

Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações
Por que extrair os sisos?
Os dentes sisos costumam erupcionar entre os 17 e 25 anos. Devido à evolução da mandíbula humana, muitas pessoas não possuem espaço suficiente para acomodá-los adequadamente, resultando em diversos problemas:
- Impactação: o dente fica parcial ou totalmente retido no osso
- Erupção em posição inadequada: causando pressão nos dentes adjacentes
- Formação de bolsas periodontais: áreas difíceis de higienizar que acumulam bactérias
- Desenvolvimento de cistos e tumores: em casos mais graves e negligenciados
“Adiei a extração dos meus sisos por cinco anos devido ao medo. Quando finalmente tive coragem, descobriram um pequeno cisto associado a um deles. Se tivesse esperado mais, as complicações seriam maiores”, relata Marina, 29 anos, professora.
Segundo dados da Associação Brasileira de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial (2023), aproximadamente 65% da população apresenta problemas relacionados aos terceiros molares que exigem intervenção cirúrgica.

Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações
Riscos reais da extração dos sisos
Toda cirurgia envolve riscos, e a remoção dos sisos não é exceção. É importante conhecê-los para tomar decisões informadas:
1. Lesão temporária ou permanente de nervos
Os sisos inferiores estão próximos ao nervo alveolar inferior, responsável pela sensibilidade do lábio inferior e queixo. A proximidade varia de pessoa para pessoa.
“Em aproximadamente 2% dos casos, pode ocorrer parestesia temporária – uma alteração de sensibilidade que geralmente se resolve em algumas semanas ou meses”, explica o Dr. Paulo Renato, neurocirurgião que frequentemente colabora em casos complexos.
Para reduzir esse risco, radiografias panorâmicas e tomografias computadorizadas são essenciais no planejamento cirúrgico.
2. Alveolite seca
Trata-se de uma inflamação dolorosa que ocorre quando o coágulo sanguíneo é perdido prematuramente da cavidade após a extração.
“A dor da alveolite é bem característica – intensa e não responde bem a analgésicos comuns. Ocorre em cerca de 3-5% das extrações, sendo mais frequente em fumantes e mulheres que usam contraceptivos orais”, comento com base na minha experiência clínica.
3. Trismo (limitação de abertura bucal)
A dificuldade temporária para abrir completamente a boca após a cirurgia é comum e geralmente se resolve em 7-10 dias.
Carlos, empresário de 34 anos, compartilha: “Nos primeiros dias após a cirurgia, mal conseguia comer sopas. Foi assustador, mas meu cirurgião havia me alertado sobre essa possibilidade e me orientou sobre exercícios que ajudaram bastante.”
4. Infecção pós-operatória
Apesar das técnicas assépticas e antibioticoterapia profilática, infecções podem ocorrer, especialmente em pacientes com sistema imunológico comprometido ou com higiene bucal precária.
Estudos publicados no Journal of Oral Surgery (2022) indicam taxas de infecção entre 1-5%, dependendo de diversos fatores como técnica cirúrgica e condições prévias do paciente.
5. Fratura de mandíbula
Extremamente rara, ocorrendo em menos de 0,005% dos casos, geralmente associada à remoção de dentes profundamente impactados em mandíbulas atróficas.
6. Comunicação buco-sinusal
Nos sisos superiores, existe o risco de criar uma comunicação entre a cavidade bucal e o seio maxilar, especialmente quando as raízes estão muito próximas ou penetram esta estrutura.

Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações
Fatores que aumentam os riscos cirúrgicos
Determinados aspectos elevam significativamente as chances de complicações:
- Idade avançada: pacientes acima de 35 anos geralmente apresentam osso mais denso e menor capacidade regenerativa
- Condições sistêmicas: diabetes não controlado, imunossupressão, etc.
- Posicionamento complexo do dente: quanto mais profundo e angulado, maior a dificuldade técnica
- Tabagismo: retarda significativamente a cicatrização
- Experiência do cirurgião: profissionais menos experientes podem ter maior índice de complicações
“Não existe idade ideal para extrair os sisos, mas geralmente recomendamos entre 16 e 25 anos, quando as raízes ainda estão em formação e o osso é mais flexível”, esclareço aos meus pacientes.
Como minimizar os riscos
A boa notícia é que muitas complicações podem ser evitadas com cuidados adequados:
- Escolha um especialista qualificado: preferencialmente um cirurgião bucomaxilofacial para casos complexos
- Exames de imagem completos: radiografias panorâmicas e, quando necessário, tomografia computadorizada
- Avaliação pré-operatória detalhada: histórico médico completo e exames quando indicados
- Seguir rigorosamente as orientações pós-operatórias: aplicação de gelo, medicação prescrita e repouso
- Higiene bucal cuidadosa: seguindo as técnicas recomendadas pelo cirurgião
Beatriz, fisioterapeuta de 26 anos, conta: “O pós-operatório foi muito mais tranquilo do que esperava porque segui todas as recomendações à risca. Minha recuperação foi rápida e sem complicações.”

Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações
Quando é melhor não extrair
Nem sempre a extração é necessária. Existem situações em que o monitoramento periódico é preferível:
- Sisos completamente inclusos, sem sintomas e sem patologias associadas
- Pacientes com problemas sistêmicos graves que contraindiquem a cirurgia
- Pacientes muito idosos, quando os riscos superam os benefícios
“Acompanho meus pacientes idosos com sisos inclusos há anos. Alguns têm mais de 70 anos e nunca precisaram extraí-los porque não desenvolveram problemas”, compartilho com base na minha experiência clínica.
Recuperação: o que esperar
A recuperação normal após a extração de sisos envolve:
- Primeiras 24 horas: sangramento controlado, inchaço progressivo
- 24-72 horas: pico de edema e desconforto
- 3-7 dias: redução gradual do inchaço e melhora da abertura bucal
- 7-14 dias: recuperação significativa da função
- Completa: aproximadamente 21 dias para cicatrização dos tecidos moles
“A chave para uma boa recuperação é não subestimar o procedimento”, alerta Pedro, 22 anos, estudante de engenharia. “Tentei voltar à academia no terceiro dia e tive sangramento. Aprendi da pior forma que o repouso inicial é fundamental.”

Extração de dente siso – entenda os riscos e complicações
Conclusão: decisão informada é o primeiro passo
A extração dos dentes sisos é um procedimento seguro quando realizado por profissionais qualificados e com planejamento adequado. Como em qualquer intervenção cirúrgica, existem riscos, mas estes podem ser minimizados significativamente com os cuidados apropriados.
Se você está considerando a remoção dos sisos, busque informações de fontes confiáveis e consulte um especialista para uma avaliação individualizada. Lembre-se que cada caso é único e merece atenção personalizada.
A decisão consciente, baseada em informações precisas, é sempre o melhor caminho para garantir sua saúde bucal a longo prazo.