
Dona Lúcia, 72 anos, guarda sua prótese parcial removível – o “roach”, como era popularmente chamado – em um copo com água todas as noites. Ela detesta os grampos de metal que machucam sua gengiva e que, por vezes, aparecem em um sorriso mais largo. Ao ouvir sobre uma tal “prótese dentária flexível” em uma conversa, seus olhos brilharam. A busca por essa solução em Belo Horizonte a introduziu a um mundo de promessas de conforto e estética, mas também a uma conversa necessária sobre as indicações e os limites dessa tecnologia.
A prótese flexível surgiu como uma resposta direta à principal queixa dos usuários de próteses parciais: a rigidez e a aparência dos grampos metálicos. Feita de um material resiliente e translúcido, ela se propõe a ser uma alternativa mais confortável e discreta. Mas, como em toda área da saúde, não existe solução universal.
Sua popularidade vem de características que atacam diretamente os pontos fracos de sua antecessora. O material e o design são os grandes diferenciais.
O que torna essa prótese “flexível” é seu material principal, geralmente uma resina termoplástica como a poliamida. “Esse material nos permite criar uma prótese mais fina, mais leve e sem nenhuma estrutura metálica”, explica Dr. André Matos, especialista em prótese dentária. “Os grampos que abraçam os dentes são feitos do mesmo material rosado da base, então eles se camuflam na gengiva. O ganho estético é inegável.”
A flexibilidade do material permite que a prótese se encaixe com mais suavidade, reduzindo os pontos de pressão que causam dor e desconforto. “Para pacientes idosos, com gengivas mais sensíveis, ou para aqueles com uma anatomia bucal que dificulta a adaptação de uma prótese rígida, a flexível pode ser uma excelente saída”, complementa o Dr. Matos.
Apesar das vantagens atrativas, a prótese flexível não é indicada para todos os casos. A conversa com um dentista ético deve passar, obrigatoriamente, pelas suas desvantagens.
“Eu vejo a prótese flexível como uma rainha para casos provisórios ou para pacientes com poucos dentes a serem substituídos”, pondera o especialista. “Por ser flexível, ela não distribui a força da mastigação de forma tão eficiente quanto uma prótese com estrutura metálica. Em grandes espaços ou como solução definitiva, ela pode sobrecarregar a gengiva e o osso.” Sua indicação precisa ser técnica, não apenas baseada no desejo do paciente.
O material, por ser mais poroso que o acrílico tradicional, é mais suscetível a manchas e à impregnação de odores se não for higienizado com produtos específicos. Além disso, reparos e reembasamentos (ajustes na base) são mais difíceis de serem executados.
Para Dona Lúcia, a prótese flexível se mostrou uma opção viável para substituir seus dois dentes perdidos. A decisão, no entanto, foi tomada após uma longa conversa com seu dentista, que pesou as vantagens estéticas contra as limitações funcionais para o seu caso específico. A lição é que a melhor prótese não é a mais moderna, mas aquela que o profissional, com seu conhecimento técnico, julga ser a mais adequada e segura.
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